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  • Foto do escritorMUR Uberlândia

SOBRE SANTOS - Santa Joana D'Arc

Atualizado: 20 de jun. de 2018


Olá amados de Deus! A partir de hoje, o Projeto Duas Asas tem uma nova série em que poderemos conhecer melhor histórias de grandes santos, a “Sobre Santos”! E hoje, iniciaremos com a francesa Santa Joana D’Arc cuja memória a Igreja celebra no dia 30 de maio.

Joana nasceu em 6 de janeiro de 1412 em Domrémy, na França. Era analfabeta e filha de camponeses muito trabalhadores e honrados, ajudando nas tarefas domésticas e no pastoreio dos animais. Desde criança, ela sempre apresentou um senso de religiosidade e piedade muito profundos que se manifestavam nas suas ações e jeito de ser: cuidava dos doentes, acolhia peregrinos, recebia frequentemente os sacramentos – gostava muito de ir à missa e apresentou disposição para aprender o catecismo – e era muito contemplativa: gostava de subir a lugares altos e apreciar o panorama.

Aos 13 anos de idade, Joana começou a ter experiências místicas: ouvia uma voz que lhe orientava no caminho de Deus: “Quando eu tinha mais ou menos 13 anos, ouvi a voz de Deus que veio ajudar-me a me governar. Eu ouvi a voz do lado direito, quando ia para a Igreja. Depois que ouvi esta voz três vezes, percebi que era a voz de um anjo. Ela me ensinou a me conduzir bem e a frequentar a igreja.” Mais tarde, ela identificou que a voz era de São Miguel Arcanjo, o qual a orientou a partir para socorrer a França. As experiências de Joana também envolveram mais tarde Santa Catarina e Santa Margarida que a pediam para que salvasse a França. Sobre essa questão, muitas pessoas afirmam que Santa Joana D’Arc sofria com alucinações. Dom Estêvão Bettencourt rebate esse argumento: “Note-se que a alucinação significa um estado patológico, fonte de falsos juízos e de comportamento moral descontrolado. Ora em toda a conduta de Joana d’Arc não há vestígios de prostração física nem de aberração intelectual ou de incoerência de dizeres e atitudes; ao contrário, clarividência e firmeza notáveis se manifestaram. Torna-se, por conseguinte, difícil, se não ilógico, sustentar a tese das ‘alucinações’.

O contexto histórico da época de Joana era bastante complicado: a Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453), entre a França e a Inglaterra. A França sofria muito pelas sucessivas tentativas de invasão inglesa e além disso, padecia com discórdias internas, com a queda da moral e da religião. Em 1415, Henrique V da Inglaterra invadiu a França para derrubar o rei Carlos VI e encontrou apoio em Borgonha, onde o duque Filipe, o Bom, o reconheceu como legítimo soberano da França. Além disso, Carlos VI estava com sua saúde mental abalada, deserdando seu filho e nomeando o monarca inglês como regente e herdeiro do país. Carlos VI e Henrique V morreram em 1422. Com toda essa situação, Carlos VII, filho do falecido rei francês, fez-se coroar em Poitiers, estabelecendo sua corte em Bourges. Enquanto isso, os ingleses caminhavam pela terra francesa assediando Orleães e como o novo rei era uma figura fraca, nada fazia e o povo francês padecia perante as invasões e aos homens ineptos e gozadores que Carlos VII deixava que os dirigissem.

A intervenção de Joana seu deu quando ela completou 17 anos. A voz que vinha do céu, a convenceu que era finalmente ora de agir. Ela se dirigiu ao capitão Robert de Baudricourt, que era delegado do rei em Vancouleurs pedindo a ele que a levasse ao rei “não empossado”. Porém, Joana foi esnobada e desprezada pelo capitão que disse para que ela voltasse para casa. Mas Joana permaneceu impassível impressionando o capitão por sua energia e finalmente conseguiu convencê-lo de levá-la ao rei. Joana pediu trajes masculinos adaptados à missão militar e um cavalo ao capitão, e assim partiu escoltada por seis homens para Chinon aonde se encontrava o rei, chegando ao lugar em 6 de março de 1429. Ao chegar à corte, identificou o rei dissimulado entre os cortesãos e pediu-lhe soldados para levantar o cerco de Orleães. Porém, não inspirava confiança e foi submetida a intensos interrogatórios e exames sobre fé e moral durante três intermináveis semanas. Por fim o laudo foi favorável e Carlos VII foi convencido do empreendimento de Joana.

A situação da França era grave e apenas por intervenção divina a nação poderia ser salva. Carlos VII concedeu um pequeno batalhão à Joana que não teve autorização para batalhar, mas para estimular os guerreiros. E assim, ela partiu para Orleães empunhando um estandarte branco com a imagem de Cristo entre dois anjos. Muito imprevistamente, em 8 de maio de 1429 os ingleses levantaram o cerco e Joana junto a sua tropa entraram em Orleães.

Com a vitória, Joana então levou Carlos VII para Reims para que recebesse a sagração régia em 17 de julho de 1429. Tendo sido realizada a sagração, Joana disse ao rei: “Gentil roi, maintenant est faict le plaisir de Dieu” que quer dizer: “Gentil rei, agora está feito o prazer de Deus”.

Joana deu por finalizada a sua missão, mas o rei pediu que ela continuasse na guerra. E de forma muito infeliz e ingrata, este a esqueceu e abandonou, com a sensação de poder e segurança lhe tendo sucumbido à mente. Mas mesmo assim, junto às tropas, Joana continuou lutando por amor ao seu país, mas em 23 de maio de 1430 foi capturada pelos burgúndios, aliados dos ingleses que a compraram por 10.000 francos e a levaram para ser julgada. Sua pretensão não era apenas capturá-la, mas destruir a sua imagem perante o público. O plano foi então executado usando-se de pretextos religiosos para que as pessoas da época fossem persuadidas. Dom Estêvão nos dá uma excelente explicação acerca da condenação de Santa Joana D’Arc:

Não se poderiam entender adequadamente o processo e as maquinações empreendidos contra Joana d'Arc se não se levasse em conta a mentalidade de ingleses e franceses da época:
a) Joana dera à sua missão militar um caráter religioso, dizendo que Deus queria por seu intermédio libertar a França. - Por conseguinte, os inimigos, para desprestigiá-la, tentariam demonstrar que Joana de modo nenhum podia ser enviada de Deus, por estar sob a influência do demônio, como herege, bruxa, impostora, etc. - Caso isto ficasse comprovado, também o rei Carlos VII perderia a sua autoridade; seria evidente que se aliara a uma filha de Satanás, por obra da qual havia sido sagrado. Os franceses poderiam então perder a esperança de obter a vitória final.
b) A mentalidade popular da época era levada a crer que vitória obtida em guerra era sinal de que Deus apoiava o vencedor. Ora os ingleses haviam conseguido um triunfo retumbante em Azincourt (1415), onde cinco mil guerreiros tinham prostrado toda a cavalaria francesa, lutando um soldado contra seis cavaleiros. Tão fulgurante vitória, pensava-se, só teria sido alcançada com a colaboração do Céu; donde podiam muitos concluir que Joana contradizia ao curso dos acontecimentos sobre o qual Deus já proferira o seu juízo.
c) A própria conduta de Joana se prestava a deturpações... As calamidades que assolavam a França havia cerca de 75 anos, excitavam a imaginação popular, provocando o surto sucessivo de falsos taumaturgos e visionários. Como naquela hora se distinguiria Joana de uma Catarina de la Rochelle ou do pastor Guilherme de Gévaudan, comprovadas vítimas da ilusão? - Além disto, o espírito medieval podia facilmente escandalizar-se com a figura de uma jovem vestida de cavaleiro a cavalgar junto com uma tropa de soldados; ora tal era o caso de Joana. Ninguém concebia que uma virgem cristã se pudesse apresentar nesses termos. Compreende-se então que muitos dos contemporâneos da heroína se tenham podido iludir a seu respeito.
d) Será preciso levar em conta também a colaboração da Universidade de Paris, setor de grande autoridade, que os ingleses ganharam para a sua causa. O espírito que então animava os professores dessa instituição não era muito sadio. Tendiam a considerar-se os luzeiros da S. Igreja; os mais moderados entre eles ficavam céticos ao ouvir falar de Joana; muitos, porém, lhe eram energicamente contrários. A pobre camponesa, com seus poucos anos de idade, deixava-se guiar por pretensas visões mais do que pelas ideias dos professores; queria passar por mais perita do que os capitães do exército, sem pedir vénia nem autorização aos doutos lentes! (...)
Os ingleses, tendo que apelar para motivos religiosos na sua ação contra a jovem guerreira, encontraram apoio valioso na pessoa do bispo de Beauvais, Pierre Cauchon, todo devotado à causa dos invasores e, por isto, refugiado em Ruão, território possuído pelos ingleses.
Não foi difícil encontrar pretexto para se iniciar um processo contra Joana: as suas apregoadas mensagens celestiais forneciam fundamento a acusações de bruxaria e heresia! Cauchon foi constituído presidente do respectivo tribunal. Para dar ao júri o aspecto e a autoridade de tribunal da Inquisição (tribunal oficial da S. Igreja!), chamaram a participar da mesa o vice-inquisidor de Ruão, Jean Lemaitre. Cauchon convidou ainda grande número de assessores e jurados, aos quais o governo inglês fez saber que tinha meios para os coagir, caso rejeitassem participar do processo; 113 juristas aceitaram a intimação, dos quais 80 pertenciam à Universidade de Paris.
O júri era de todo ilegítimo, pois Cauchon não tinha sobre Joana nem a autoridade de bispo diocesano nem a de legado pontifício. A Santa Sé não fora em absoluto informada da constituição de tal tribunal.
Contudo o processo foi encaminhado. A jovem sofreu maus tratos físicos e morais; submetida a interrogatórios capciosos, que visavam a arrancar-lhe a confissão de heresia e superstição, respondeu sempre com simplicidade e nobreza; chegou a apelar para o Santo Padre: ‘Peço que me leveis à presença do Senhor nosso, o Papa: diante dele responderei tudo o que tiver que responder’. ‘Tudo que eu disse, seja levado a Roma e entregue ao Sumo Pontífice, para o qual dirijo o meu apelo!’. Em vão, porém, apelou.
Finalmente, após peripécias diversas, Joana foi fraudulentamente condenada qual herege, relapsa, apóstata, idólatra. Entregue ao braço secular, sofreu a morte pelas chamas aos 30 de maio de 1431, enquanto olhava para o Crucifixo e orava. Na última manhã de sua vida, ainda dizia Joana a Cauchon: ‘Eu morro por causa de V.S.; se me tivésseis colocado nos cárceres da Igreja, ... isto não teria acontecido.’
A opinião pública viu-se profundamente abalada pelo ocorrido. Apesar de todas as acusações, a massa do povo ainda tinha Joana na conta de vítima da injustiça de seus inimigos. Consequentemente, pouco depois de entrar solenemente em Ruão (dezembro de 1449), o rei Carlos VII deu início a uma revisão do processo condenatório, revisão que terminou favorável à jovem. Seguiu-se em 1455 o inquérito pontifício, já que Joana fora abusivamente sentenciada em nome da Inquisição: após numerosos interrogatórios, o arcebispo de Reims, aos 7 de julho de 1456, perante numerosa assembleia de clérigos e leigos em Ruão, publicou a conclusão do ‘processo do processo’, reabilitando a memória da donzela.

Joana recebeu a sentença de morte na fogueira e foi executada com 19 anos. Amarrada e sendo consumida em chamas, Joana olhava para seu crucifixo e entregava a sua vida sem fraquejar cumprindo sua missão e afirmando crer na voz do anjo de Deus que a guiou e libertou a França através dela. Para entender melhor com funcionava a Inquisição, você pode ler o nosso post sobre o assunto aqui.

Em 1456, o então papa Calisto III nomeou uma comissão para examinar novamente e de forma plena o processo de Joana D’Arc, o qual tinha sido feito de forma ilegal, sendo inocentada. Já em 1909, no pontificado de Pio X, foi aberto o processo de beatificação de Joana D’Arc, sendo então canonizada pelo papa Bento XV em 1920. No mesmo texto de Dom Estêvão, aqui, você pode melhor entender o processo de Santa Joana.

Santa Joana D’Arc, sempre orgulhosa de sua virgindade, nunca manchou de sangue sua espada em batalha e sempre sustentou o povo francês em oração com seu estandarte. Sua perseverança e fé na Igreja, fez com que a Universidade de Paris, que se revogava ao direito de controlar os assuntos pontifícios e cujos membros apoiaram o último antipapa, Felix V, ficou desacreditada por sua participação no processo contra a santa. E além disso, com a separação dos reinos da França e Inglaterra, a França foi preservada do futuro cisma de Henrique VIII (fundador da Igreja Anglicana) com a Igreja Católica.

Santa Joana D’Arc, rogai por nós!


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