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A Igreja Católica foi fundada por Constantino?

Atualizado: 11 de jun. de 2018


Celebramos no último domingo, 20 de maio, o dia de Pentecostes, que marca a manifestação pública da Igreja ao mundo e sua difusão pela pregação do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas para entender sua origem e desmitificar a tese de que ela foi fundada pelo imperador Constantino, precisamos nos ater a alguns pontos. Sobre a história da Igreja, o padre Paulo Ricardo nos diz:

A História da Igreja, diferentemente de outros objetos de estudo, requer para sua compreensão plena um esforço prévio. Isso ocorre devido à natureza complexa da Igreja. Ela não é meramente uma instituição humana, que pode ser entendida somente no âmbito humano. Não é uma agremiação, um grupo de pessoas unidas em sociedade com um fim específico. Não. A Igreja é um mistério e, se este for perdido de vista, a história que dele deriva será apenas uma caricatura.

Fonte: https://padrepauloricardo.org/aulas/igreja-continuidade-historica-da-encarnacao-de-cristo

A negação da instituição da Igreja por Nosso Senhor Jesus Cristo é feita com base na afirmação de que esta foi realizada pelo imperador Constantino. O Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 759, amparado pela constituição dogmática Lumen Gentium, obra do Concílio Vaticano II, nos afirma que a Igreja é projeto nascido do coração do Pai:

“[...] Aos que creem em Cristo quis convoca-los na Santa Igreja, a qual, tendo sido prefigurada já desde a origem do mundo e preparada admiravelmente na história do povo de Israel e na antiga aliança, foi fundada ‘nos últimos tempos’ e manifestada pela efusão do Espírito, e será consumada em glória no fim dos séculos.”

Fonte: Constituição Dogmática Lumen Gentium, Papa Paulo VI, parágrafo 2.

Nos parágrafos 759 – 769 do Catecismo podemos entender de forma resumida sobre toda a missão da Igreja desde o sonho do coração de Deus (§759), passando por sua prefiguração desde o início do mundo (§760), sua preparação na Antiga Aliança (§761-762), sua instituição por Cristo Jesus (§763-766), sua manifestação pelo Espírito Santo (§767-768) até a sua consumação na glória celeste (§769).

Tratando de sua origem plena e manifestada ao mundo, a Igreja surge manifesta ao mundo em Pentecostes quando o Espírito Santo desceu como línguas de fogo sobre Maria e os apóstolos do cenáculo de Jerusalém. Em Atos 2, podemos ler e meditar sobre a conversão de mais de três mil judeus pela pregação dos apóstolos, bem como sobre a vida fraterna dos apóstolos e o crescimento da Igreja.

Na Bíblia podemos ler em Mt 16, 18: “[…] tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja [...]” – “[…] tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam [...]”. Observe que o verbo “edificar” está na primeira pessoa do singular, futuro do presente: percebemos aqui que Jesus instituirá sua Igreja sobre Pedro. É importante também que analisemos o vocábulo “pedra” em aramaico e grego. No aramaico, duas palavras são usadas para designar materiais rochosos:

  • Evna” = pedra

  • Kepha (כף)” ou “Cefas” (transliterado para o grego) = rocha

No grego, duas palavras são também usadas:

  • Lithos (λίθος)” = pedra pequena

  • Petra (πέτρᾳ)” = rocha maciça, pedra grande (equivalente ao aramaico Kepha”)

Na Sagrada Escritura lemos que Jesus deu novo nome a um pescador chamado Simão. Esse novo nome era “Kepha” (aramaico), transliterado como “Cefas”. No grego esse nome tornou-se “Petrus”. Isso porque não há gênero em aramaico, mas no grego sim. Por isso, “Petra”, equivalente a “Kepha”, foi masculinizada para nomear um homem, porém o significado permaneceu inalterado (rocha ou pedra grande). Você pode entender melhor essa questão gramatical aqui e ainda melhor com os testemunhos patrísticos aqui, aqui e aqui.

Constantino, também conhecido com Constantino Magno, nasceu em 274 e morreu em 337 e foi imperador de 301 a 337. Era filho de Constâncio Cloro e Helena (que se tornou Santa Helena). Após a morte do imperador Galério, o poder ficou dividido entre Constantino e Maxênico: o primeiro foi aclamado imperador pelos soldados e o segundo se auto intitulava como tal. A luta dos dois se encerrou em 28 de outubro de 312 quando Constantino viu um sinal no céu: uma cruz com a inscrição: “In hoc signo vinces” – “Com este sinal vencerás”. Constantino venceu e teve ali um marco para sua conversão sendo batizado apenas em 337 no fim da vida.

O cristianismo na época de Constantino estava bastante difundido até mesmo nas classes nobres e era bastante perseguido pelos imperadores que fizeram duras investidas contra os cristãos tentando destruir a fé, sem sucesso. No ano de 313, época do Papa Melcíades (hoje São Melcíades) o 32° papa da Igreja, o imperador pelo Edito de Milão concedeu liberdade de culto aos cristãos: “Havemos por bem anular por completo todas as restrições contidas em decretos anteriores, acerca dos cristãos – restrições odiosas e indignas de nossa clemência – e de dar total liberdade aos que quiserem praticar a religião cristã”.

Consultando os padres dos séculos I e II podemos ver que a Igreja Católica não é uma dissidência e nem uma seita que se separou da Igreja primitiva. Antes de Constantino ela já era chamada de “Católica”. Santo Irineu de Lyon, bispo da Igreja primitiva, que viveu entre 130 e 202, em sua obra Adversus Haereses descreve a linha de sucessão apostólica de São Pedro a Santo Eleutério, papa da época:

3,2 – “Mas visto que seria coisa bastante longa elencar (...) as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos. (...)”
“Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos.”
3,3 – “Os bem-aventurados apóstolos que fundaram e edificaram a igreja transmitiram o governo episcopal a Lino, aquele Lino que Paulo lembra na epístola a Timóteo. Lino teve como sucessor Anacleto. Depois dele (...), coube o episcopado a Clemente, que tinha visto os próprios apóstolos e estivera em relação com eles, que ainda guardava viva em seus ouvidos a pregação deles e diante dos olhos a tradição. (...)”
“Eleutério, em décimo segundo lugar na sucessão apostólica, detém o pontificado. Com esta ordem e sucessão chegou até nós, na Igreja, a tradição apostólica e a pregação da verdade. Esta é a demonstração mais plena de que é uma e idêntica a fé vivificante que, fielmente, foi conservada e transmitida, na Igreja, desde os apóstolos até agora.”

Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir em 107 afirma: “Onde está Cristo Jesus, está a Igreja Católica.” e ainda no texto “O Martírio de Policarpo” que data aproximadamente do ano 150, um texto da Igreja primitiva de Esmirna, podemos ler: “A Igreja de Deus que vive como estrangeira em Esmirna, para a Igreja de Deus que vive como estrangeira em Filomélio e para todas as comunidades da santa Igreja católica que vivem como estrangeira em todos os lugares.” e sobre a veracidade do texto o renomado historiador Jacques Lebrentor afirma: “O historiador das origens da religião cristã não poderia desejar um texto mais autorizado.”*

* Fonte: J. Lebreton, Histoire du dogme de la Trinité, t. II, Paris, 1928, p.200.

Esperamos que tenha gostado e entendido um pouco melhor sobre a origem da nossa Igreja fundada por nosso Senhor Jesus Cristo e manifestada ao mundo pelo Espírito Santo em Pentecostes. Deixe o seu comentário!

Que a paz de Cristo e o amor de Maria esteja com cada um!


FONTES:

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